domingo, 26 de junho de 2011

Sobre Relaxamento ...





Por Igor Fonseca

Relaxamento é um conceito comum. Afinal de contas, diariamente escutam-se relatos do tipo “ai, preciso de um tempo para relaxar”. A questão é: como se relaxa? Qual é a receita?

Até aí nada novo, a não ser o fato de que as pessoas condicionam o ato de relaxar a ações somente físicas, e desconhecem que o relaxamento também vem de uma forma não reativa de encarar os fatos da vida. Significa que de alguma forma não se oferece resistência aos acontecimentos, e se desenvolve uma aceitação a eles, o que não consiste numa acomodação ou desistência de se tentar mudar algo, mas a uma forma madura de se relacionar com essas questões, para que elas não te tirem do seu eixo, comprometendo sua saúde física, mental, emocional, e de certa forma (como não podemos nos fragmentar) a saúde espiritual.

Um banho quente pode modificar o seu dia, mas tente antes de molhar o pé na água quente, observar como foi a sua relação com os acontecimentos do dia. Sem menosprezar o efeito positivo do banho, pois o processo de relaxamento deve ser iniciado pelo corpo – já que é através dele que se expressam a tensão e o relax. Assim, existe um relaxamento da musculatura, que volta ao seu tônus muscular ideal, além de uma sincronização respiratória, que auxilia em um equilíbrio do metabolismo.

Mas ainda assim, quem dera que fosse só o cansaço do corpo o motivo dos nossos problemas. Quem dera que só a agua quente nas costas aliviasse nossa ansiedade de existir num mundo como esse.

Em técnicas de relaxamento se constitui um típico processo psicofisiológico de caráter interativo, onde o fisiológico e o psicológico não são simples correlatos um do outro, mas ambos interagem sendo partes integrantes do processo, como causa e como produto (Turpin,1989).

Observe o quanto você foi capaz de se manter no que o Dr. Deepack Chopra chama de auto-referência, que significa que o nosso ponto de referência interior é constituído pela nossa própria alma e não pelos objetos da nossa experiência. E desta forma, você também relaxa porque não permitiu que a mente, com suas características reativas, provocasse toda uma reação de estresse e ansiedade indesejada. Não existe mente sem pensamentos, a mente tranquila é expressa por outros motivos. Nem toda agua quente do mundo, nem massagens, boa musica, carinhos ou qualquer outra forma padrão de se relaxar são suficientes quando a mente continua pipocando dentro de culpa, medo, julgamento, raiva e outras formas comuns de estresse.

A necessidade desse estado homeostático vem de muito tempo. As técnicas de relaxamento tiveram seu inicio com rituais religiosos de povos primitivos com o objetivo de se atingir estados alterados de consciência. Os primeiros relatos surgem na Mesopotâmia e na Índia. Passado o misticismo, no Egito, Grécia, Roma foi estudado de modo mais científico.

Quem já experimentou uma prática de Yoga deve lembrar-se de savasana, a postura final da aula, onde se deita no tapete por um tempo com o objetivo principal de relaxar.

Savasana leva ao corpo a sua homeostase, devido a esse retorno ao tônus natural da musculatura e ao equilíbrio metabólico, que te permite uma tranquilidade mental. Por isso considerada a postura mais completa do Yoga e ao mesmo tempo, a mais difícil. A mais fácil de ser executada e a mais difícil de ser dominada.

Parte da aprendizagem de savasana é o reconhecimento de que perdemos o controle sobre a nossa mente, e por consequência, perdemos o controle das emoções, dos desejos e até mesmo das atitudes. Você deita no chão, coloca o corpo em uma posição extremamente favorável para um processo metabólico de equilíbrio, mas nao relaxa, no mínimo descansa, porque lá está a sua mente fazendo novela, criando aquele movimento cansativo.

Certamente não se pode exigir de imediato das pessoas que elas tenham esse domínio sobre o aspecto mental, mas é interessante sugerir a observação dessa falta de domínio, para que a mudança seja gradual e verdadeira, para que o praticante não faça figuração na postura, mas encontre o seu processo pessoal de evolução dentro daquele breve momento.

Krisnamacaria dizia que savasana era a ”morte do ego”, enquanto swami sivananda dizia que o objetivo de savasana era desapegar-se, em um ato de entrega e fé.

Dessa forma, empiricamente se observa que a mente é volátil e a dificuldade de controlar essa natureza é bem grande. Levar ao corpo ao relaxamento é um ato consciente, por mais que ele tenha a capacidade inata de relaxar. Induzir o relaxamento é uma questão de treinamento, e consequentemente, de responsabilidade com você mesmo.

A palavra responsabilidade é forte, geralmente associada a disciplina de um modo pesado. Mas brincando com etimologia da palavra, pode-se enxergar responsabilidade como “ Responder com habilidade”, a habilidade necessária para que a sua felicidade não se perca na confusão do mundo, para que a sua felicidade esteja disponível para bons momentos com as suas pessoas queridas.


sábado, 25 de junho de 2011

PERENIDADE







Nada no mundo se repete.
Nenhuma hora é igual a que passou,
Cada fruto que vem cria e repete
Uma doçura que ninguém provou

Mas a vida deseja
Em cada recomeço o mesmo fim
E a borboleta, mal desperta, adeja
Pelas ruas floridas do jardim

Homem novo que vens, olha a beleza!
Olha a graça que teu instinto pede
Tira da natureza
o luxo eterno que ela te concede.



Miguel Torga

domingo, 5 de junho de 2011

O QUE TE TIRA DO SÉRIO ????



Por Igor Fonseca


Minha professora de Yoga restaurativa deu uma tarefa para a próxima aula, que era para ser bem simples: escrever sobre o que me tira do sério.

Em primeiro lugar, ela resolveu perguntar isso quando estávamos todos muito relaxados. Exatamente naquele momento em que demonstrar comportamentos raivosos é tido como quase vergonhoso e animalesco, porque ninguém que é dono das próprias emoções vai cometer a atitude vergonhosa de criar uma situação de atrito que sempre é constrangedora e possível de ser evitada com certa inteligência.

Independente disso, a tarefa de fato deveria ser muito simples, afinal estamos “fora do sério” a maior parte do tempo. Corrupção tira do sério, a violência oferecida pela mídia tira do sério, crianças carentes me tiram do sério, pobreza e exploração me tiram do sério. Mas convenhamos, que isso é o tipo de coisa que tira qualquer pessoa saudável do sério, então, não acredito que a tarefa se trate disso, até porque aquela raiva, descontrole e magoa que sentimos normalmente, não vem da noticia de uma verba de saúde desviada por tal autoridade. A reatividade nossa de cada dia, vem das pessoas quem convivem diariamente com a gente, e que se manifestam de um modo contrario a nossa vontade, ou, ao nosso conceito interno e quase inquestionável do que é ética e bom comportamento. Aquela ideia estupida mas presente em todo mundo, de que o outro só não pensa igual a você, e não enxerga o que você vê, porque ele não sabe, porque se soubesse veria exatamente igual. E aí, você sente raiva ou sente piedade daquele outro. E esse outro por sua vez, te devolve a mesma raiva, ou a mesma piedade.

Cada ser humano tem a tua ótica, afinal, ele ponderou varias opiniões para chegar ate aquela, e isso deu certo trabalho. Quando o outro vem mostrando uma possível visão diferente, ele é quase um inimigo, afinal, se eu ja ponderei tudo, como que ele pode me vir com diferenças e ainda estar certo???..não...ele não pode não.

Daí me veio uma possível resposta: o que nos tira do sério é o REFLEXO DO ESPELHO.

Todo mundo ja acordou e olhou para o espelho rejeitando a própria imagem, como uma olheira indevida, uma marca de expressão indesejável, ou o famoso bad day hair. Mas, se ao acordar, essa pessoa não se deparar com nada disso, nem olheiras, nem marcas e nem o cabelo em rebeldia, conseguirá enxergar somente a beleza inata de cada um, e não haverá nenhum incomodo. Se aquilo estiver resolvido, desconhecerá o problema e nem vai pensar ou se incomodar com isso, que não vai fazer parte das tragédias diárias.

Da mesma forma que quem tiver bem resolvido internamente, nao vai ver o reflexo feio no outro, e mesmo que esse outro pipoque dentro da própria reatividade, aquela imagem não te agride porque não é o seu reflexo.

Talvez, o nosso problema, e causa do nosso mau estar diário, seja a síndrome de Rainha malvada da branca de neve. Enquanto o espelho nos diz que somos os mais belos e coerentes, o mundo continua colorido, mas quando o espelho diz que essa qualidade pode estar no outro, fugimos da “reflexão” e o comportamento mais imediato é querer envenenar a maçã do outro.

Em pesquisa descobri uma frase do escritor Herman Hesse, aquele mesmo que escreveu o livro siddharta, tão cultuado entre nós, yoguinhos, que fala que quando nascemos ganhamos um espelho que fica colado no nosso peito, e que assim vivemos a vida refletindo o outro e vendo no espelho do outro o nosso reflexo. Hermann Hesse disse: " Se você odeia uma pessoa, odeia algo nela que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos incomoda."

Dessa forma pode haver uma receita pra não sair do sério, que é cuidar da imagem que você reflete, para que ela volte agradável ao seus olhos.

Me recordo do desenho, onde o mais encantador no espelho, além do fato de ele sempre falar a verdade, era o fato de dizer tudo em rimas. E dessa forma eu vou vestir o personagem do espelho magico e finalizar inventando um poema com pequenas rimas que exemplifica o que quis dizer:





em um mundo que foi feito
para todos habitar
nao importa quem é perfeito
ou ainda vai estar

se tu busca concordancia
pra encontrar felicidade
tu ainda ta na infancia
do que é maturidade

quem abraça o lado sombra
como se abraça a luz
novamente se encontra
com a Alma que conduz

quando o outro nao é outro
e eu nao sou mais eu
eu compreendo a tal beleza
eu entendo o tal de Deus.

Ígor Fonseca
Junho/2010