domingo, 15 de janeiro de 2012

Do denso ao sutil (voltando ao denso, voltando ao sutil)


Por Igor Fonseca

15/01/2012


O próprio B.K.S Iyengar, talvez o mestre de yoga mais reverenciado do momento, diz que ser professor de yoga não é uma tarefa fácil, porque esses professores devem ser seus próprios críticos e corrigir sua própria pratica. Afirma que o Yoga é uma arte completamente subjetiva e voltada para a pratica. Dessa forma, os professores devem ser fortes e positivos em sua abordagem, precisam ser afirmativos para criar confiança nos alunos, e negativos em seu intimo para poder refletir de modo critico sobre sua própria pratica bem como de suas atitudes.

Na condição de professor eu fico imaginando quais foram os ganhos daqueles que passaram por esses tapetinhos neste ultimo ano. Não foi um ano comum, pois diversas emoções diferentes como medo, fragilidade, expectativa, e todas as questões pessoais brigavam pela nossa atenção mais do que nos outros anos.

Considero que o processo de cada um é um mundo a parte, mas tento fazer um balanço da pratica desse ano. E nesse momento eu não vejo como o professor, e sim, como a pessoa que esta praticando junto, só que virado para o outro lado da sala. Noto como cada questão pessoal de cada aluno influenciou a forma como uma aula foi dada, e como cada feedback, talvez de você mesmo que esta lendo, modificou tudo que eu fiz esse ano. A cada respirada, a cada novo ajuste dentro de uma “velha postura”, a cada relato de uma necessidade física ou emocional de alguns de vocês que foi suficiente pra modificar o ritmo de uma turma inteira, e a cada questão minha, que foi trabalhada por vocês durante o tempo em que ficamos juntos.

Posso dizer que todos nós crescemos juntos, e que um crescimento pessoal não esta desvinculado de um crescimento do grupo como um todo. As pessoas que estão no tapete ao seu lado são especiais, e provavelmente modificaram seu ano, e sua vida. E você certamente, a delas.

Mesmo dentro do silencio, sentado no seu tapete, você esta colaborando pra aliviar aquele que chega em um dia que não foi muito bom. Mesmo quando você não chega muito bem na aula, e não quer dividir sua preocupação, ainda assim você esta abraçado por um grupo.

É o que o yoga chama de sangha, uma ideia de comunidade, de um grupo que não se junta por ter afinidades, pelo contrario, o que eu noto são diferenças muito grandes entre pessoas que praticam dentro de uma mesma turma. Mas o desejo pessoal de ser melhor faz com que a gente se torne um grupo, muito especifico, e muito forte.

E essa evolução do denso ao sutil, das dificuldades do corpo até as dificuldades emocionais, são compartilhadas por todo mundo. Talvez você pense que o seu sofrimento exista porque você não tem o dinheiro que gostaria, ou a família, o trabalho, ou o relacionamento ideal, só que você olha para o tapete do lado e vê uma outra pessoa que tem tudo que você gostaria de ter e ainda assim esta ali, fazendo esforço para por os ísquios no chão, buscando uma forma de se sentir mais completa. Ou, mais irônico ainda, você olha para o tapete do lado e vê uma outra pessoa com muito menos que você possui, mas esta ali experimentando contentamento, em um ambiente aonde ninguém fala, porém o dialogo é rico, verdadeiro e engrandecedor para todo mundo.

Essa evolução para o sutil não acontece de modo linear e nem sempre de modo ascendente, de vez em quando a gente precisa voltar ao denso, experimentar de novo o corpo, regredir no asana, auxiliar aquele novato perdido, rever o que a gente acha que sabe fazer, e dali, ganha-se uma nova base no denso para construir o sutil com qualidade. E talvez tudo isso só dê certo pela pluralidade, pela diferença de cada pessoa e de cada busca. Já que todos nós somos feito de carne e sonho, e mesmo sem saber, buscamos exatamente a mesma coisa, que é se sentir completo e amado, independente de qualquer diferença.

Quanto aos professores, o mestre Iyengar já disse: "Os professores devem sempre estar aprendendo”. Eles aprenderão com seus alunos e devem ter humildade de lhes dizer que ainda estão aprendendo sua arte.