terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Grato !!!!

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Queridos alunos e amigos,

A reflexão em cima da impermanência de tudo que conhecemos no mundo, e sobre as transformações causadas diariamente nas nossas vidas, mesmo que imperceptíveis aos nossos olhos, estiveram presentes na historia da humanidade por séculos, e continuam sendo uma reflexão importante até os dias de hoje.

Algumas pessoas talvez não estejam ligadas a essa sutileza da passagem do tempo, ou a percebam somente com a chegada da velhice, mas, esse é um rio que corre e não pode ser represado, ou uma roda que gira e não pode ser freada. 

Existe uma beleza muito grande quando se compreende que a vida é composta de ciclos, ao invés de se tentar combater essa mudança como algo que vem pra te desestabilizar. Que venham todas as mudanças !

Final de ano é uma grande mudança. Não é um ciclo inventado. Não é uma estratégia de marketing pra vender pacotes de cruzeiros ou ceias de réveillon com fogos de artificio. O mundo mudou mesmo, você mudou, as pessoas do seu lado também mudaram. A terra deu uma volta inteira ao redor do sol.  Se passaram 4 estações.  E mesmo que você continue na mesma casa, com o mesmo marido, mesmo emprego e com os mesmos vizinhos, isso não significa que o mundo não tenha te empurrado pra frente junto com tudo mais que existe. E por isso, FELIZ ANO NOVO.

            Mas, toda essa reflexão sobre o tempo passando, me faz perceber a importância sobre um espaço de tempo em que tudo isso se faz compreendido com mais facilidade. A importância de se reconhecer o AGORA, como o melhor momento do tempo para se viver. E por isso te desejo mais do que um feliz ano novo. Desejo um FELIZ MOMENTO PRESENTE. E que esse momento presente não sofra a interferência negativa do que a sua vida já foi um dia ou a dor da expectativa do que será.  Um momento presente vivido com felicidade e responsabilidade vai suprir o seu futuro, que não é nada mais do que a extensão do momento presente.

            E agora, eu sou muito grato por tudo que eu vivo nesse momento.  E o que vivo nesse momento presente é uma extensão real do relacionamento que tive com vocês.  

Se a minha lapidação pessoal depende de um exercício pessoal, a minha lapidação como professor é um exercício coletivo, que evolui a medida que eu recebo de volta uma resposta satisfatória. E essas devoluções na maioria das vezes não se tratam de respostas verbalizadas. Não é necessário se falar nada, a resposta vem porque acompanhamos de modo discreto a vida de quem nos rodeia.

O agradecimento não é uma mera formalidade. A gratidão vem da confiança, de eu saber que tudo que eu estou propondo esta sendo realizado por cada pessoa a sua forma. É a confiança de deixar eu chegar até vocês de modo tão profundo mesmo que não sejamos íntimos. E convenhamos que não nos permitimos esse exercício de auto analise na maior parte do tempo, e por saber disso, eu tenho que fazer um grande agradecimento por participar de alguma maneira desse seu momento, graças a minha tarefa de professor.

O vinculo que eu crio com cada um de vocês é um vinculo muito maior do que o aparente. É a responsabilidade de passar a ideia correta, de não passar a informação equivocada, e o que eu vejo são pessoas cada vez mais fortes e luminosas. O que me da uma ideia de como seguir o caminho certo.

A habilidade de olhar para você mesmo de um jeito mais amoroso, consciente, inteligente é o meu foco como facilitador desse processo pessoal. E fico muito realizado por saber que tenho isso como "profissão".

Também sei que cada pessoa que entra nesse caminho em pró da auto realização, se transforma em um agente de transformação. Porque uma mudança dessa magnitude não fica escondida, e vai influenciar o seu mundo de relacionamentos. E essa pequena corrente, faz com que o nosso momento presente se torne muito mais feliz. Por isso, espero que em 2013, façamos que esse nosso momento seja a própria felicidade, e que qualquer adversidade, que também é um componente da mudança, seja encarada como ferramenta e nunca como motivo de lamentação.

Por fim, digo que minha nova casa estará aberta para todos que compartilham dessa vontade. E desejo que sejamos felizes como sempre fomos, como somos, e sempre seremos.

Feliz Ano Novo
Igor Fonseca

domingo, 15 de janeiro de 2012

Do denso ao sutil (voltando ao denso, voltando ao sutil)


Por Igor Fonseca

15/01/2012


O próprio B.K.S Iyengar, talvez o mestre de yoga mais reverenciado do momento, diz que ser professor de yoga não é uma tarefa fácil, porque esses professores devem ser seus próprios críticos e corrigir sua própria pratica. Afirma que o Yoga é uma arte completamente subjetiva e voltada para a pratica. Dessa forma, os professores devem ser fortes e positivos em sua abordagem, precisam ser afirmativos para criar confiança nos alunos, e negativos em seu intimo para poder refletir de modo critico sobre sua própria pratica bem como de suas atitudes.

Na condição de professor eu fico imaginando quais foram os ganhos daqueles que passaram por esses tapetinhos neste ultimo ano. Não foi um ano comum, pois diversas emoções diferentes como medo, fragilidade, expectativa, e todas as questões pessoais brigavam pela nossa atenção mais do que nos outros anos.

Considero que o processo de cada um é um mundo a parte, mas tento fazer um balanço da pratica desse ano. E nesse momento eu não vejo como o professor, e sim, como a pessoa que esta praticando junto, só que virado para o outro lado da sala. Noto como cada questão pessoal de cada aluno influenciou a forma como uma aula foi dada, e como cada feedback, talvez de você mesmo que esta lendo, modificou tudo que eu fiz esse ano. A cada respirada, a cada novo ajuste dentro de uma “velha postura”, a cada relato de uma necessidade física ou emocional de alguns de vocês que foi suficiente pra modificar o ritmo de uma turma inteira, e a cada questão minha, que foi trabalhada por vocês durante o tempo em que ficamos juntos.

Posso dizer que todos nós crescemos juntos, e que um crescimento pessoal não esta desvinculado de um crescimento do grupo como um todo. As pessoas que estão no tapete ao seu lado são especiais, e provavelmente modificaram seu ano, e sua vida. E você certamente, a delas.

Mesmo dentro do silencio, sentado no seu tapete, você esta colaborando pra aliviar aquele que chega em um dia que não foi muito bom. Mesmo quando você não chega muito bem na aula, e não quer dividir sua preocupação, ainda assim você esta abraçado por um grupo.

É o que o yoga chama de sangha, uma ideia de comunidade, de um grupo que não se junta por ter afinidades, pelo contrario, o que eu noto são diferenças muito grandes entre pessoas que praticam dentro de uma mesma turma. Mas o desejo pessoal de ser melhor faz com que a gente se torne um grupo, muito especifico, e muito forte.

E essa evolução do denso ao sutil, das dificuldades do corpo até as dificuldades emocionais, são compartilhadas por todo mundo. Talvez você pense que o seu sofrimento exista porque você não tem o dinheiro que gostaria, ou a família, o trabalho, ou o relacionamento ideal, só que você olha para o tapete do lado e vê uma outra pessoa que tem tudo que você gostaria de ter e ainda assim esta ali, fazendo esforço para por os ísquios no chão, buscando uma forma de se sentir mais completa. Ou, mais irônico ainda, você olha para o tapete do lado e vê uma outra pessoa com muito menos que você possui, mas esta ali experimentando contentamento, em um ambiente aonde ninguém fala, porém o dialogo é rico, verdadeiro e engrandecedor para todo mundo.

Essa evolução para o sutil não acontece de modo linear e nem sempre de modo ascendente, de vez em quando a gente precisa voltar ao denso, experimentar de novo o corpo, regredir no asana, auxiliar aquele novato perdido, rever o que a gente acha que sabe fazer, e dali, ganha-se uma nova base no denso para construir o sutil com qualidade. E talvez tudo isso só dê certo pela pluralidade, pela diferença de cada pessoa e de cada busca. Já que todos nós somos feito de carne e sonho, e mesmo sem saber, buscamos exatamente a mesma coisa, que é se sentir completo e amado, independente de qualquer diferença.

Quanto aos professores, o mestre Iyengar já disse: "Os professores devem sempre estar aprendendo”. Eles aprenderão com seus alunos e devem ter humildade de lhes dizer que ainda estão aprendendo sua arte.

domingo, 6 de novembro de 2011

Espiritualidade express


Por Igor Fonseca
6/11/2011

Diariamente me questiono sobre a teoria da evolução espiritual. Chamo de teoria porque nao entendo exatamente como acontece, e chamaria de verdade se emocionalmente a reconhecesse assim.

Esse é o grande ponto, será que eu entendo intelectualmente ou entendo com aquelas emoções que reformulam as minhas atitudes? E sem querer generalizar demais, eu acredito que a grande maioria, mesmo que inconscientemente, compartilhe dessa mesma duvida.

Quando eu abro uma pagina de rede social eu sou bombardeado por varias citações de valorização de virtudes. Ta lá, de manha cedo, ghandi, madre tereza, buda, swamis indianos, grandes pensadores, espiritualistas famosos, grandes escritores. E essas citações são muito bem feitas, muito logicas, muito inteligentes, e entendo com grande facilidade e prazer a mensagem que esta por trás daquelas frases famosas entre duas aspas.

E aí reside a grande duvida. Tenho um palpite, que o fato de intelectualmente entendermos a verdade daquela grande citação nos faz achar que vivenciamos aquela grande verdade com o coração. Aí, dou um clique no curtir isso (Y) e ja saio de casa me achando um pouco Ghandi, e cometo uma cagada atrás da outra sem perceber, ainda me achando Ghandi.

Parece um pouco exagerado, ou megalomaníaco, achar que a grande maioria faz a mesma coisa, mas se de fato eu to equivocado em relação a isso, porque será então que o mundo continua no mesmo caos? Porque se todos vivenciassem plenamente o que eu relato ter dificuldade de vivenciar, acho que existiria um céu na terra. E se você que esta lendo, e nao se inclui nesse questionamento, eu te pergunto: Sério? Nao se inclui mesmo? Diariamente você experimenta autruismo ao ponto do seu ego nao se manifestar ?

Isso eu chamo de espiritualidade express. O fato de colecionar livros, citações e imagens de buda meditando, e acreditar que isso por si só ja te coloca acima do “povo ligado a matéria”. Basta você ir numa loja de esoterismo e acreditar no fim do mundo em 2012 que isso ja te coloca em um plano espiritual mais elevado.

Aceito que o fato de você buscar isso, é porque tua mente de certa forma experimenta o interesse pelo divino, mas também acredito que é muito fácil estagnar depois de um tempo, e ficar com um pé no chão e outro no alto, achando que os dois estão no alto.

Continuando na metáfora, talvez o fato de prestarmos bastante atenção no pé que ta agarrado no chão, nos permite ganhar força de impulso no pé que esta no alto. E isso me permite de certa forma, um relacionamento diferente com a frase bíblica que antes era um grande clichê e que no momento, mais me faz sentido: ORAI E VIGIAI. Orai para despertar a fé, que sem ela, vivemos eternamente na duvida. Vigiai para dar atenção a cada movimento e pensamento, que nem sempre são virtuosos e passam despercebidos pelo nosso ego e pela suposta consciencia.

A conclusão que eu chego no momento, é que existe algo muito mais imediato do que a força de uma grande devoção, que é, baseado nessa devoção, a qualquer objeto que seja, exista por trás, o ímpeto de uma grande ação. A contemplação de karma Yoga.

domingo, 4 de setembro de 2011

Contentamento

Por Igor Fonseca

04/09/2011


O contentamento, que é um dos caminhos do praticante de yoga, não significa se tornar inerte ou permissivo em relação ao mundo. De nada tem a ver com vitimização, de aceitar uma condição miserável, sofrida, porque em algum momento isso “foi causado” a você. É entender que apesar do seu modo de conduzir tua vida e independente das vontades do seu ego, o mundo é o que ele tem que ser.

Vale sempre lembrar, que a estimativa é de que existem 7 bilhões de pessoas no mundo, e que não é necessária uma logica muito elaborada pra se entender que é mais fácil essas sete bilhões de pessoas se adequarem a um único planeta do que um único planeta atender a 7 bilhões de vontades pessoais, onde essas pessoas no fundo, nem sabem o que é que elas querem.

Desta forma, santocha – o contentamento, não significa que você tenha que desenvolver um otimismo bobo, cego, mas o fato de aceitar algumas coisas em uma postura mais positiva.

Algumas pessoas até conseguem tirar alguma vantagem do pessimismo, mas o que elas conseguem é apenas um consolo, mas não a felicidade. E não podemos nos contentar com menos do que a felicidade.

O grande questionamento é entender do que se trata felicidade, e saber busca-la no lugar certo. Da mesma forma que eu não consigo comprar livros em um açougue, não da pra comprar felicidade pela internet. Parece obvio dizer isso, mas no fundo não é não. Ainda achamos que carrinho de compras em mega store gera felicidade.

Pode ate existir uma felicidade momentânea no acumulo de coisas mundanas, mas basta alguém te olhar de cara feia que você entra num processo reativo e esquece a felicidade de desembalar uma tv de 42”.

Mas nesse equivoco coletivo de busca por felicidade, acho que a busca em cima de coisas materiais ainda é menos nociva do que o comportamento de achar que felicidade é quando as outras pessoas fazem exatamente aquilo que você gostaria que elas fizessem. Nisso entra o estereótipo de bom filho, o estereótipo de bom amigo, de namorado perfeito, de bom funcionário, de ser humano integro. Tudo isso baseado em normas éticas muito frágeis. E é só acontecer qualquer rompimento dentro desse padrão idealizado, que o estado de tranquilidade vem abaixo, junto com o discurso: “que absurdo! Olha como são as pessoas. O mundo vai ensinar a ele uma lição ( sempre acho engraçada essa parte em especifico, como se o mundo tivesse que punir quem age diferente do seu ideal), como que ele pode fazer isso???”. A resposta talvez seja: ele pode fazer isso porque a historinha dele e os estereótipos dele estão dentro de uma ilusão diferente da sua. Somos todos doidos e perdidos tentando achar felicidade sabe-se lá como.

Um bom exercício, neste momento, é parar por uns minutos e se perguntar o que te traria a felicidade, e mais algumas perguntas secundarias: Será que resolveria todos os seus problemas? Será que te levaria a uma felicidade eterna? Será que essas busca é a mesma de todas as outras pessoas? Quem tem aquilo que você deseja é feliz o tempo inteiro, full time?.

E por ultimo, a pergunta que pode te levar a milhares de outras e revirar seu estomago: Porque o que você ja tem não te faz feliz???????

Eu escolhi, acordar todos os dias, por mais que tenha muitos desejos, alguns mundanos e outros transcendentais, afirmar que ja sou feliz, e agradecer pelo que eu tenho.

Finalizo com um trecho do livro do professor Shimada, A Ioga do Mestre e do Aprendiz:

Não ter recursos hoje é uma situação temporária; uma hora temos, outra hora não temos. Não ter caráter é para sempre. Vocês têm de estar contentes, agradecer pelo o que têm agora, e tratar de melhorar. Se vocês não aceitarem e agradecerem o que for que tiverem neste momento, se o que vocês tiverem hoje não proporcionar nenhum contentamento, nem toda a fartura do mundo fará vocês felizes amanhã. Saber disso é ganhar um tesouro.



domingo, 26 de junho de 2011

Sobre Relaxamento ...





Por Igor Fonseca

Relaxamento é um conceito comum. Afinal de contas, diariamente escutam-se relatos do tipo “ai, preciso de um tempo para relaxar”. A questão é: como se relaxa? Qual é a receita?

Até aí nada novo, a não ser o fato de que as pessoas condicionam o ato de relaxar a ações somente físicas, e desconhecem que o relaxamento também vem de uma forma não reativa de encarar os fatos da vida. Significa que de alguma forma não se oferece resistência aos acontecimentos, e se desenvolve uma aceitação a eles, o que não consiste numa acomodação ou desistência de se tentar mudar algo, mas a uma forma madura de se relacionar com essas questões, para que elas não te tirem do seu eixo, comprometendo sua saúde física, mental, emocional, e de certa forma (como não podemos nos fragmentar) a saúde espiritual.

Um banho quente pode modificar o seu dia, mas tente antes de molhar o pé na água quente, observar como foi a sua relação com os acontecimentos do dia. Sem menosprezar o efeito positivo do banho, pois o processo de relaxamento deve ser iniciado pelo corpo – já que é através dele que se expressam a tensão e o relax. Assim, existe um relaxamento da musculatura, que volta ao seu tônus muscular ideal, além de uma sincronização respiratória, que auxilia em um equilíbrio do metabolismo.

Mas ainda assim, quem dera que fosse só o cansaço do corpo o motivo dos nossos problemas. Quem dera que só a agua quente nas costas aliviasse nossa ansiedade de existir num mundo como esse.

Em técnicas de relaxamento se constitui um típico processo psicofisiológico de caráter interativo, onde o fisiológico e o psicológico não são simples correlatos um do outro, mas ambos interagem sendo partes integrantes do processo, como causa e como produto (Turpin,1989).

Observe o quanto você foi capaz de se manter no que o Dr. Deepack Chopra chama de auto-referência, que significa que o nosso ponto de referência interior é constituído pela nossa própria alma e não pelos objetos da nossa experiência. E desta forma, você também relaxa porque não permitiu que a mente, com suas características reativas, provocasse toda uma reação de estresse e ansiedade indesejada. Não existe mente sem pensamentos, a mente tranquila é expressa por outros motivos. Nem toda agua quente do mundo, nem massagens, boa musica, carinhos ou qualquer outra forma padrão de se relaxar são suficientes quando a mente continua pipocando dentro de culpa, medo, julgamento, raiva e outras formas comuns de estresse.

A necessidade desse estado homeostático vem de muito tempo. As técnicas de relaxamento tiveram seu inicio com rituais religiosos de povos primitivos com o objetivo de se atingir estados alterados de consciência. Os primeiros relatos surgem na Mesopotâmia e na Índia. Passado o misticismo, no Egito, Grécia, Roma foi estudado de modo mais científico.

Quem já experimentou uma prática de Yoga deve lembrar-se de savasana, a postura final da aula, onde se deita no tapete por um tempo com o objetivo principal de relaxar.

Savasana leva ao corpo a sua homeostase, devido a esse retorno ao tônus natural da musculatura e ao equilíbrio metabólico, que te permite uma tranquilidade mental. Por isso considerada a postura mais completa do Yoga e ao mesmo tempo, a mais difícil. A mais fácil de ser executada e a mais difícil de ser dominada.

Parte da aprendizagem de savasana é o reconhecimento de que perdemos o controle sobre a nossa mente, e por consequência, perdemos o controle das emoções, dos desejos e até mesmo das atitudes. Você deita no chão, coloca o corpo em uma posição extremamente favorável para um processo metabólico de equilíbrio, mas nao relaxa, no mínimo descansa, porque lá está a sua mente fazendo novela, criando aquele movimento cansativo.

Certamente não se pode exigir de imediato das pessoas que elas tenham esse domínio sobre o aspecto mental, mas é interessante sugerir a observação dessa falta de domínio, para que a mudança seja gradual e verdadeira, para que o praticante não faça figuração na postura, mas encontre o seu processo pessoal de evolução dentro daquele breve momento.

Krisnamacaria dizia que savasana era a ”morte do ego”, enquanto swami sivananda dizia que o objetivo de savasana era desapegar-se, em um ato de entrega e fé.

Dessa forma, empiricamente se observa que a mente é volátil e a dificuldade de controlar essa natureza é bem grande. Levar ao corpo ao relaxamento é um ato consciente, por mais que ele tenha a capacidade inata de relaxar. Induzir o relaxamento é uma questão de treinamento, e consequentemente, de responsabilidade com você mesmo.

A palavra responsabilidade é forte, geralmente associada a disciplina de um modo pesado. Mas brincando com etimologia da palavra, pode-se enxergar responsabilidade como “ Responder com habilidade”, a habilidade necessária para que a sua felicidade não se perca na confusão do mundo, para que a sua felicidade esteja disponível para bons momentos com as suas pessoas queridas.


sábado, 25 de junho de 2011

PERENIDADE







Nada no mundo se repete.
Nenhuma hora é igual a que passou,
Cada fruto que vem cria e repete
Uma doçura que ninguém provou

Mas a vida deseja
Em cada recomeço o mesmo fim
E a borboleta, mal desperta, adeja
Pelas ruas floridas do jardim

Homem novo que vens, olha a beleza!
Olha a graça que teu instinto pede
Tira da natureza
o luxo eterno que ela te concede.



Miguel Torga

domingo, 5 de junho de 2011

O QUE TE TIRA DO SÉRIO ????



Por Igor Fonseca


Minha professora de Yoga restaurativa deu uma tarefa para a próxima aula, que era para ser bem simples: escrever sobre o que me tira do sério.

Em primeiro lugar, ela resolveu perguntar isso quando estávamos todos muito relaxados. Exatamente naquele momento em que demonstrar comportamentos raivosos é tido como quase vergonhoso e animalesco, porque ninguém que é dono das próprias emoções vai cometer a atitude vergonhosa de criar uma situação de atrito que sempre é constrangedora e possível de ser evitada com certa inteligência.

Independente disso, a tarefa de fato deveria ser muito simples, afinal estamos “fora do sério” a maior parte do tempo. Corrupção tira do sério, a violência oferecida pela mídia tira do sério, crianças carentes me tiram do sério, pobreza e exploração me tiram do sério. Mas convenhamos, que isso é o tipo de coisa que tira qualquer pessoa saudável do sério, então, não acredito que a tarefa se trate disso, até porque aquela raiva, descontrole e magoa que sentimos normalmente, não vem da noticia de uma verba de saúde desviada por tal autoridade. A reatividade nossa de cada dia, vem das pessoas quem convivem diariamente com a gente, e que se manifestam de um modo contrario a nossa vontade, ou, ao nosso conceito interno e quase inquestionável do que é ética e bom comportamento. Aquela ideia estupida mas presente em todo mundo, de que o outro só não pensa igual a você, e não enxerga o que você vê, porque ele não sabe, porque se soubesse veria exatamente igual. E aí, você sente raiva ou sente piedade daquele outro. E esse outro por sua vez, te devolve a mesma raiva, ou a mesma piedade.

Cada ser humano tem a tua ótica, afinal, ele ponderou varias opiniões para chegar ate aquela, e isso deu certo trabalho. Quando o outro vem mostrando uma possível visão diferente, ele é quase um inimigo, afinal, se eu ja ponderei tudo, como que ele pode me vir com diferenças e ainda estar certo???..não...ele não pode não.

Daí me veio uma possível resposta: o que nos tira do sério é o REFLEXO DO ESPELHO.

Todo mundo ja acordou e olhou para o espelho rejeitando a própria imagem, como uma olheira indevida, uma marca de expressão indesejável, ou o famoso bad day hair. Mas, se ao acordar, essa pessoa não se deparar com nada disso, nem olheiras, nem marcas e nem o cabelo em rebeldia, conseguirá enxergar somente a beleza inata de cada um, e não haverá nenhum incomodo. Se aquilo estiver resolvido, desconhecerá o problema e nem vai pensar ou se incomodar com isso, que não vai fazer parte das tragédias diárias.

Da mesma forma que quem tiver bem resolvido internamente, nao vai ver o reflexo feio no outro, e mesmo que esse outro pipoque dentro da própria reatividade, aquela imagem não te agride porque não é o seu reflexo.

Talvez, o nosso problema, e causa do nosso mau estar diário, seja a síndrome de Rainha malvada da branca de neve. Enquanto o espelho nos diz que somos os mais belos e coerentes, o mundo continua colorido, mas quando o espelho diz que essa qualidade pode estar no outro, fugimos da “reflexão” e o comportamento mais imediato é querer envenenar a maçã do outro.

Em pesquisa descobri uma frase do escritor Herman Hesse, aquele mesmo que escreveu o livro siddharta, tão cultuado entre nós, yoguinhos, que fala que quando nascemos ganhamos um espelho que fica colado no nosso peito, e que assim vivemos a vida refletindo o outro e vendo no espelho do outro o nosso reflexo. Hermann Hesse disse: " Se você odeia uma pessoa, odeia algo nela que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos incomoda."

Dessa forma pode haver uma receita pra não sair do sério, que é cuidar da imagem que você reflete, para que ela volte agradável ao seus olhos.

Me recordo do desenho, onde o mais encantador no espelho, além do fato de ele sempre falar a verdade, era o fato de dizer tudo em rimas. E dessa forma eu vou vestir o personagem do espelho magico e finalizar inventando um poema com pequenas rimas que exemplifica o que quis dizer:





em um mundo que foi feito
para todos habitar
nao importa quem é perfeito
ou ainda vai estar

se tu busca concordancia
pra encontrar felicidade
tu ainda ta na infancia
do que é maturidade

quem abraça o lado sombra
como se abraça a luz
novamente se encontra
com a Alma que conduz

quando o outro nao é outro
e eu nao sou mais eu
eu compreendo a tal beleza
eu entendo o tal de Deus.

Ígor Fonseca
Junho/2010